Biogás
Resíduos orgânicos, como dejetos de animais e restos de comida, poluem o meio ambiente caso não sejam tratados corretamente. Mas também podem ser uma importante fonte de energia sustentável. Usados para produzir biogás, transformam-se em energia elétrica, térmica e biometano (como combustível veicular).
O biogás é uma fonte alternativa de energia importante para diversificar a matriz energética. É produzido a partir de dejetos resultantes da criação de animais ou outros substratos produzidos na área urbana ou rural. A partir da decomposição dos materiais orgânicos, um conjunto de gases é gerado, entre eles o metano e o dióxido de carbono, que agravam o aquecimento global. O processamento destes gases, além de evitar a poluição dos solos e das águas, transforma-os em energia térmica, elétrica e combustível veicular.
Para ser produzido, é necessário um biodigestor, equipamento que propicia um ambiente anaeróbio adequado que possibilita a decomposição dos resíduos orgânicos sem a presença de oxigênio. Como o campo gera grande quantidade de matéria orgânica, os biodigestores têm sido cada vez mais adotados para reduzir custos e melhorar a gestão ambiental. Anualmente, bois, porcos e aves produzem cerca de 200 milhões de toneladas de dejetos no Brasil.
(Foto: CIBiogás, planta de biogás para geração de biometano, Itaipu)
O uso de biogás tem crescido no Brasil, embora ainda haja muito potencial para seu uso. Segundo informações do BIOGASDATA, elaborado com apoio da CIBiogás, o país possui 675 plantas, das quais 638 estão em operação para fins energéticos, ou seja, 94%. Houve um crescimento de 22% em comparação ao ano anterior, sinalizando que o mercado está em fase de expansão.
Segundo o Panorama do Biogás no Brasil 2020, estudo da Associação Brasileira do Biogás (ABiogás),
“é indiscutível que ainda há um grande potencial de produção a ser explorado, porém o biogás tem conquistado cada vez mais seu espaço sobretudo por ser uma fonte renovável de energia firme, despachável e não intermitente que pode contribuir de forma significativa para a transição energética no país.”
O biogás é também uma grande oportunidade para o cooperativismo, tanto na busca de autossuficiência energética quanto na mitigação de impactos ambientais. A autogestão da energia pode conferir maior competitividade às diversas atividades e auxiliar no desenvolvimento sustentável das comunidades. Cooperativas agropecuárias com resíduos que podem produzir biogás possuem um vínculo especial com a tecnologia, porém, diversos setores do cooperativismo podem se envolver e se beneficiar da energia produzida. O biogás pode ser usado, por exemplo, por cooperativas de infraestrutura, de crédito e na intercooperação.
(Foto: Usina da EnerDinBo em Ouro Verde do Oeste – PR, a qual gera energia que é distribuída via cooperativa)
Em uma granja de Palotina, no oeste do Paraná, que pertence a uma das maiores cooperativas do país, são criados cerca de 2 mil leitões por semana. No ano passado, a cooperativa investiu mais de R$ 1,5 milhões em um sistema de biodigestores. Um dos benefícios foi a melhora na qualidade de trabalho – o cheiro dos dejetos caiu drasticamente.
A granja também zerou a conta de energia. “Hoje a gente tem uma potência instalada de 160 kWp, o equivalente a cerca de 400 residências. A economia mensal gera em torno de R$ 20 mil a 25 mil”, contou o engenheiro eletricista Samuel Rubert, em reportagem do Globo Rural. A economia ajuda a abater o empréstimo – a expectativa é pagá-lo em sete anos.
Outro projeto inovador usando a tecnologia é a minicentral termelétrica Biogás de Entre Rios do Oeste, concebido pela chamada de P&D estratégico número 014/2012 da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Patrocinado pela Copel e executado pelo CIBiogás e Parque Tecnológico Itaipu (PTI), o objetivo é gerar energia elétrica utilizando o biogás produzido em propriedades suinocultoras do município de Entre Rios do Oeste (PR).
Ao todo, 18 propriedades rurais consideradas unidades produtoras de biogás são conectadas a uma rede coletora de 20,6 quilômetros que transporta o biogás até uma minicentral termelétrica de 480 kWp de potência instalada com dois grupos motogeradores. Na central, o biogás é transformado em energia elétrica que, por sua vez, abastece mais de 66 prédios públicos do município. Com isso, gera renda aos produtores de forma alinhada ao conceito de energia cooperativa.
Outro exemplo da oportunidade do biogás é o da Granja São Pedro, uma propriedade de 250 hectares em São Miguel do Iguaçu, também no oeste do Paraná. A família Colombari usa os dejetos de cerca de 5 mil porcos e 350 bovinos para produzir energia. No início, além de ter zerado a conta de luz, recebia recursos da concessionária pela parte que não usava. Com a nova norma da Aneel, em 2012, o excedente passou a ser creditado para uso futuro ou em outra propriedade.
A granja também participa de um projeto piloto, por meio de uma estrutura de microrrede que vai abastecer outro grupo de propriedades rurais quando houver queda de energia da concessionária, funcionando como uma espécie de backup da rede. Assim, vai potencializar os aspectos ambientais, segurança energética e maior qualidade no suprimento de eletricidade na área rural, apoiando a cadeia do agronegócio.
Esses exemplos mostram que um passivo ambiental pode se tornar um ativo energético.
Autor: Maurício Frighetto (Instituto IDEAL)
Publicado em 15/07/2021
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